Ola!

"A felicidade não passa de um sonho, e a dor é real... Há oitenta anos que o sinto. Quanto a isso, não posso fazer outra coisa senão me resignar, e dizer que as moscas nasceram para serem comidas pelas aranhas e os homens para serem devorados pelo pesar."(Schopenhauer)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Pergaminho de Adão


Esta noite, esta noite eu tive um sonho,
demiurgo me veio em nevoas translucidas,
ele tentava me tocar, 
ora eu chorava por não compreender
e meditava por todo o resplandecer,

No fim apenas me olhava tenso,
o que dizer de mim?
um pobre que se levanta a toda queda,
nunca compreendi até onde eu deveria,
ilhado de duvidas não tinha nada além do sorrir,

Então a face resplandecia meu semblante,
de vista varri longe o que eu via,
minha cegueira oportuna consumia,
são tantos cegos no mundo, bravio dolor,
não sou óculos para o mundo, sou terra,

Eu na verdade não compreendia o criador,
apenas foram palavras, e elas me vinham,
morriam na praia, na praia da mente,
o coração fartava de não a ter,
sentia mas não assimilava minha dor,

Demiurgo se foi, deixou-me suas lagrimas,
eu entendia o desfavor que lhe dava,
deixei então as paginas amareladas,
fui-me ver no necessário, o pratico,
sentia que me sendo, contemplava

Suas dadivas, seus dons, ensinamentos,
não sou só palavras, não sou arvoredos,
inúteis que se espalham frente a madrugada,
eu aprendi depois dos tormentos,
todas as coisas não palpáveis da chegada

O sonho se foi, ha muitos não provava
e antes não diferencia de ilusões,
o que era minha vida do antes,
o que era viver em despopulações,
era então olhos apertados da matina,

Na dormida, definitivamente não mais sonhei,
apenas deitei ao travesseiro,
recôndito de lençóis; vivi dias; sobrepujei a noite,
porque do sonho ando a passos largos no hoje.

(Cléber Seagal)

Meu Amar



Amar é bem querer noutro
E se no não amar morro
Longe de mim pensamentos tristes
Perto de ti, vem, me convides,

Quanto mais, do mais se quer
Um cariciar doce na meiguice de mulher
Querer estar perto feito areia para o mar
Excitação máxima do falar,

São abraços acordados de sonhos
Beijos agradabilíssimos encostos
Da mente pensamentos se formam
E os corpos entrelaçados se encontram,

E por ti sou todo amores
Meu céu desenhado de cores
Nem sei se o sabes, e insisti
Sabe, eu penso mesmo é por si,

Defeitos são feito o nome; tortos
Mas pra tuas qualidades lanço fogos
Oro por você, por esta imagem cálida
Todos os pensamentos a meus ávida,

Minhas mãos então nas suas
Sentimentos meus em ideias nuas
Tocado do doce que avizinha na voz
Seu jeito, seu sorriso... Que saudade feroz

E isto é o que sinto, é dizer-te
Meu por do sol airoso, ser-te
Ah calor! Repleto em meu ombro
Oh! Se não a vejo, me assombro.

(Cléber Seagal)

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Rua Solidão



Tenra idade, possivelmente não mais terei prazer em tão consolável época, doutra forma como poderei viver de um mundo donde castelos eram feitos de tinta, com pinceis à lápis e toda cera de cores aos quais o tempo não conserva. No mais, não haveriam laços de ignorância esnóbil, nem maculas vindouras de completa maturidade que trazem acerca da maioridade. Não me resigno ao simples que lamenta o passado, mas me sinto aturdido ao ver que o tempo não desmontou minhas memórias. Com certeza aos mais atentos destas linhas, viver-se-á nelas por instantes, mesmo que resolutos, mas claros instantes... Que imperfeito mundo fez de momento perene traço da simplicidade de uma criança.
Tenho todas as certezas do mundo quando me refiro ao aprender que um infante traz consigo, digo, que nascemos em maioria sós advindos de madre, aconchegados de zelo e cheios de amor, mas também o digo a tantos que vivem de solidão e apenas surgiram neste globo arremessados a própria sorte e duvida, aprendendo estes forçadamente aos ares, a terra, a cor do céu e o conceber das estrelas como único benfazejo amigo, e não poderia ser melhor instrutor a quem não tem os seus. E este menino pobre acorda todas as manhãs visionário, mas não o faz pensando no futuro de adulto que nunca quis ser, e sim como o de criança que sempre será no fundo do peito. Seria certo que ele cresceria e quem sabe seria doutor, cobrador de ônibus, lixeiro ou professor, bem, deixou-se imaginar ainda de sua vivencia de menino pra ser dentro de seu próprio mundo o que queria; tudo o que quisesse.
Os carros passam distantes, tanto quanto a mente daqueles que ali convinham, e tantas silhuetas por dentro dos vidros escuros, e tão poucos de coração compreendido que em vão têm; rude o dizem consigo: não o sei, nem lho conheço; menino sujo de poeira e suor, talvez menino de rua? Rua de menino? E não lhos notam o brincar singelo que pediria um abraço ou sorriso companheiro. E vi também que a miséria não convive só entre os pobres de dinheiro, e que existem tantos tipos de miséria.
Andarilho que se fez conceber nos mínimos oferecidos, caçador de si, teimou a ler de tudo que via, quando pouco arfava de pouco saber, ainda acredito ter ele maior companhia na curiosidade, talvez pousada das notícias de jornais, dos livros grossos sobrevindos, que tinham algo mais além das imagens. Montou as palavras como fazia no quebra-cabeça do lixão, queria entender a maldade do homem, e a morte da inocência, por que da dor? Por que tanta ciência se ainda outros como ele pereciam? O sacolejar na barriga do garoto previa a fome que o perseguia desde a noite anterior, doutra forma o menino sorria sozinho num repensar dos homens que ali teimavam rápidos e intrépidos, eram olhos de criança esperançosa que contrariavam desconfianças alheias, de pedinte que sempre fora naquelas manhãs, e as brincadeiras não poderiam superar a algo tão supramente necessário quanto à sobrevivência.
Todos os dias são necessários a quem vive, de refazer-se dos erros do mundo, fatos que ainda não nos demos conta e tanto pagamos por grande leviandade da carne, mas mesmo quem existe está atento as tantas vidas que nos cercam, no entanto fazemo-las não nossa, e quão grande fardo é ao ser ter de viver sem que sejamos nós mesmos, relembro no garoto que passeava as ruas daquela cidade e catava ao lixo seus brinquedos, seus livros e suas companhias, arquétipos de memórias; única sina, e pormenores que a sociedade esqueceu, e que na desilusão fez rapsódia diuturna, onde dormirás tão cabisbaixo anjo? Sua cama é do papelão escrito, enquanto o mundo é sobre ele bicho-papão, tentando massacrar suas visões; na cidade cresce o edifício e o homem definha, e quando realmente achará nele próprio o ser humano?
Talvez me interpelem: onde há prazer no auguro do abandono? Se não podemos culpar o mundo, nem pais, nem ele próprio pode explicar ainda infantil destino, quanto mais agora já adulto vos fala. Possivelmente algumas pessoas aprendem de maneira difícil, e outras muito menos passam por cima de tudo e de todos, e cegos e velhos não têm o que de bom relembrar em senil idade. se livraria o garoto de todas as amarras das maldades que atentam a juventude, de vícios, e de triste fim ao largo de sete palmos de terra? Não poderia ele se trancar naquele mundo sem refazer o próprio, adulto se faria bem antes do tempo, algum dia não haveriam mais migalhas, nem opróbrio escuro do noturno, mesmo as calçadas não o reconheceriam pisar descalço por agora, nunca mais teria companhia na fome, nem mesmo levantaria a mão de pedir, seria então testemunha viva, que ninguém a percebeu, quem entenderia senão unicamente quem o sofreu; de brinquedo aos pedaços, é de juntar forças e experiências necessárias a ser diminuto nesta selva de pedras e crer-se menor no mundo, que por pior que seja de alguns, reféns moramos todos nós.

(Cléber Seagal)

Relicário



20 de Outubro de 2011,

Hoje, enquanto arrumava os livros e desempoeirava papéis mais antigos, encontrei dentro de uma antiga agenda do colegial uma pagina de jornal na época ano 2000, nem havia observado bem e a jogaria fora se não abrisse e me ligasse com o passado. Quando notei vi a foto de uma antiga amiga; ex modelo, posando em mise-en-scène, nuns gestos sensuais que desconhecia nela. Não maldei o ato, quanto mais o fato, relembrei que o tempo muda a identidade de cada um por si, reconheci que Mario de Andrade tinha razão quando falava “O poeta é o mundo trancado dentro de um homem”. Somos mesmo esse ser mutante... Profícuo. Naquele momento vi que a poesia estava nos gestos, como a amizade existe em não maldar no outro o que é uma égide de pureza.
Foi preciso que eu retrocedesse num flashback do tudo, e como seria diferente não fazê-lo a partir de boas lembranças, voltei aos tempos de escola. Era a inocência misturada às revoltas com o mundo, das paixões incontestáveis, dos zelos e absurdos que me foram base para ser o que sou. Notório mesmo foi me ver em abraçares que creio não mais terei, sim, porque um abraço não é igual a outro, como um beijo também não, até uma palavra na boca doutro toma proporções diversas. Forcei-me ao ver nos dizeres alheios o requinte magico de um momento, eu observava com atenção e cautela meus. 
Sentei um dia na escadaria do colégio que dava acesso a vista de todo o prédio com a piscina ao meio, eu disse e já havia dito comigo mesmo; nada é para sempre... Mais ao fundo encostada encontrei essa doce amiga da foto, ela lia uma carta, atenta nem notou que eu a olhava, e se naquela época Almeida Garret existisse para mim, talvez eu não fosse tão imediatista, talvez um pouco menos trivial eu entonaria Rosa sem espinhos, e inconscientemente eu findei por dar corda à forca que se formara na vida dela. Ela me disse graciosamente que namorava, e amava por ter recebido um elogio, foi chamada de “virtuosa”, eu não duvidaria, o dono da carta tinha razão, tanto que ele a aprisionou para sempre longe de qualquer amor, mas o desfecho só me veio dois anos depois, quando ainda saudoso a vi numa parada de ônibus em pleno centro de Fortaleza. Reparei bem e apurei se eu não me enganara, ela estava diferente por demais, mas era mesmo verdade que a vi; os olhos sem vida, um rosto cansado, uma aparência descuidada, bem... Ela não me reconheceu, tentei passagem pelas lembranças dela, por fim sobreveio-a quem fui, mas agora não adiantava mais, tempo perdido; triste a morte de uma ilusão, e aquele solilóquio do filme A Maquina do Tempo tomou-me: Todos temos máquinas do tempo, as que nos levam ao passado são as lembranças e as que nos fazem seguir em frente são os sonhos.”  
Ironia a parte, aquilo para ela era um pesadelo. Ele a maltratou tanto... vi nos seus pulsos também denegridas a imagem do belo, a todo o momento eu sentia estar falando com outra pessoa, mais uma vez vi longe quem eu conheci e sobrei do espaço que agora se encontrava seu coração; pôs-me literalmente a chutes, era como tentar enfrentar uma correnteza. Minha amizade perdida num vazio... Imaginei: Tem gente que morre em vida.
Provavelmente ela se sentiu morta para o mundo, certamente a amizade que ela tinha por mim faleceu há milênios, mas a imagem duma santa em vida existiu, essa marca que alguém já representou para o outro, do que já foi puro e fecundo, visionário, isso ninguém jamais tira. Incrível é saber que a eternidade prende-se na importância do lembrar, minha amizade com ela durou o tempo necessário para me ser feliz, cacoete de Lamartini: o homem é um deus caído que tem saudades do céu.
Agora eu segurava com cuidado o jornal, ele já não tinha tanta resistência, inútil reticência minha quando o dobrei, minhas lagrimas molharam o que sobrou, agora definitivamente “Memento”. Quando eu tinha 18 anos não me imaginava chorando por alguém; vícios do passado, e agora são lagrimas de papel, entrego-o de volta as minhas memorias da gaveta do relicário, ninguém precisa saber o que eu precisei viver, só você. Cada um sabe as dores que carrega; Pedaços de amizade. “Amor - coloquei meu coração na janela do meu quarto a fim de ressecar meus sentimentos e o mundo triste que nos circunda, e pensei: tomara que ela esteja bem”.
Um amigo me gritou da janela, respondi que já ia, despertei de meu labirinto. Lembrei que tudo que começa tem um fim, e sempre há um recomeço para todo final, bem, eu já tenho maduros anos, vivi meus amigos, e estes viveram-me, Até hoje noto minhas amizades, uns vêm e outros vão tomados pelas circunstâncias, pela fragilidade. ah! O tempo, rudeza ou bondade da vida? Eu a dou meu melhor, como ainda amo meus amigos. Há sempre novas auroras boreais; sempre sorrisos além dos ecos do silencio que me aprazem, além da caneta que emendei aqui, seu olhar nestas letras importa-me, mesmo a diferença que tu possa ser na vida de um alguém, quem sabe esquece parte de teus gritos, dos teus ritos... Sonha amiga, pois daqui te ouço bem, vês como pode ser única.
(Cléber Seagal).

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Do Reflexo


Esta imagem lírica que visto
Não é a imagem minha que dito
Nem o corpus que assemelha ao texto
Todo este encanto juvenil é pretexto,

Reflexo dum viver, sobra de plebeu
Esses medos que tanto insisto me comeu
Fugas de mim quando muito é sorte
O assombro pérfido ao dormir de açoite,

Breves discordares do limiar meu
Quem dera ser a coruja, que o noturno chama
Quem dera não ser lama, que ainda vais morrer
Não sou nada, nem isto, nem teu,

A terra toda clama minha sepultura
Os ventos trazem pesarem nunca minha cura
E o tempo juiz de meu penar na vista some
Sou mal olhado que na criança consome,

As pendengas que sondam o viver
O latim posto a prova e a discorrer
Carne, insígnia de pecado desmonte
És corpo todo cheio feito Aqueronte,

Minhas palavras secas e tortas de amargura
Já fui ensejo de olhares e candura
E não quero meu passado rabiscado
Nem quero este presente retocado,

Que todos os dias forçam-me a não ser
Tantos males no mundo a transparecer
Digo, este sorriso é mudo e inconsolo
Outros que se queixem não verão em mim dolo,

Quem dará solução ao mundo?
Nem papas, nem rabinos
Nem mestres adivinhos
Serei eu o só de defeitos, o imundo?

Não há sossego que me fuja do que sou
E no espelho vejo toda a fuga que me clamou
São duas rubricas, fé e angustia que anda
Porteiras por onde meu coração desanda,

Meus passos tão cansados de mim
Muitos sois, marca de carmesim
Muitas luas, choque de sentimento
Meu peito, meu consolo tormento,

Pois que te digo quão refletido
Esta imperfeição funesta do adquirido
Nasceu em mim, e por mim terminará
A vida fez-me mínimo e a terra me tomará.

(Cléber Seagal)

Outono ou Intermitência das Idades


Gosto quando chega o outono e as folhas caem, lembrou-me algo inevitável. Mesmo que durante anos foram-se às imagens de minha memoria; O melhor de tudo era ser o mais simples tolo que se poderia não notar, pois que os outros são incompletos por si, serei incompleto por mim.
Uma vez me imaginei sozinho, mas quando nos conhecemos noutro temos a certeza de tantos outros refletidos em si insistem, daí nos conhecemos por intermédio de terceiros, e que a formalidade do universo é a compleição do coletivo.
Então essas coisas sem sentido na alma humana fazem girar a cabeça de todas as existências, melancolia que mais parece sabia, do que mais um homem que queira ser insólito, e as sobras são palavras pós-ditas, mas minhas memorias são apenas do agora mostradas.
Todos têm cartas de segredos, dos mais fracos ou fortes, entre primeiros e últimos, a velhice nos oprime a reabri-las até que chegue o fim do corredor, fazemos parecer que não queremos reaver a realidade, mas coexistimos a ela.
Digo que não devemos deixar que as pessoas escapem as nossas mãos, embora o destino nos negue o eterno, e no entanto as deixamos passar sem tocar... E sentimos que não sabemos o que sonhamos.
É triste imaginar que o tempo é escasso, mas tudo acaba mesmo, e as pessoas mais orgulhosas nem notariam na diferença. Caminhar é o melhor que se pode fazer, se é que se pode fazer isso para frente.
Às vezes a poesia pairou sobre mim feito uma gaivota arredia da terra, complexada do mar na busca de alimento, e trespassa minha mente a sinceridade transvestida dos ventos das colinas que, só não me entristecem porque falo de alguém dos meus sonhos.
Das vezes que passeamos em sonho, ora somos todos sonhos de alguém, no entanto as dores que sentimos em vida, os gritos não ouvidos são laços do não compreendido... Acredite que a vida não é só isso, ou creia-se falando sozinho sem sentimentos.
Creio que este ano minhas pernas estão mais cansadas, meu pensar não é mais o mesmo, e a beleza que já não foi tanta é agora parceira dos demais males da idade, e mais do que os outros viventes já sei do meu amanhã.
Eu buscaria meu fim se assim pudesse, mas minha vida valeu a pena de todos os ares, sinto-a verdadeiramente constante, e num osculo marginal me serve de simbiose ao amanhã. Natural, porque na natureza observa-se que buscamos o fatal de maneira irrevogável, feito o macho da viúva-negra, assim também se distingue o homem para as abstrações do mundo, onde o prazer cumpre sua meta, e a morte cobra seus pesares.
Creio também que as pessoas não são coisas, elas algum dia fogem de nós e do mundo, porque não nascemos aprendendo a entender percas, pois na morte a única coisa que nos une é a posição do corpo no caixão.
Outrora eu senti o vento fresco da campina, outrora eu nunca quis me imaginar noutros planos, e agora nem a febre me deixa, e meus sonhos já não são mais tantos. Que o diga minhas pernas, na pele e em vista conduzo-me ao ultimo degrau das existências; o beco estreita-se.

(Cléber Seagal)



terça-feira, 25 de setembro de 2012

A Aurora Sob os Pés dos Homens



Dormi e acordei num sonho, algumas ralas vezes me distanciei da realidade. Porque na aurora de minha pessoalidade minha duvida abstrava. De modo que já tirei minhas conclusões sobre as coisas deste mundo.

Uma vez amei o mundo, mas o mundo se abandonou... Todas as perguntas ficaram no cotidiano, e as respostas perdidas na imensidão do tempo... A terra já foi virgem lívida, mas tomaram seus intentos, e a naturalidade do espaço está finita nas agruras de sermos.
 
Vivi parte de minha vida sozinho, doutra parte adivinho o que serei, e mesmo assim estando, sonho um canto de abalo vivo, que tão pouco resta a quem quer tanto sobreviver... 

É necessário fazer-se de louco, despir-se também das futilidades do mundo, pensar absurdos se não ter, quando eu pensei; fui, talvez fazer por merecer, Imaginar-se banhando ao chover... é necessário ser forte para não morrer aos poucos por dentro...

Algo me diz; não tente ser o que não é, embora o mundo lhe abrigue mascaras de modo a esconder suas lagrimas, não se distraia, a rudeza dos homens me é também algumas vezes de valores estranhos e obsoletos. 

Não me sendo difícil chorar, o fiz em silencio, e no meu seio a vista baixou como quem procura o chão, a cabeça ao peso dos problemas, carga pesada e fino dilema, não encontrei apoio. Sozinho e infrutífero medo meu, não me escapa, drena todo o ciclo de quem tenta, difícil ser alguém, difícil ser quem sou. 

Tenho alma triste, e como se bastasse a sorrir em meio aos problemas emulo-me, sou mesmo esse escoar rígido e alheio de mim, mas minha tristeza lembra minha humanidade plena, para lembrar que também há dores, prantos e lembranças... Suas, minhas e de outrem, não se pode imaginar arco-íris, nem fadas e super-homens na maturidade.

Sinto o calor que chega, convindo uma marcha difusa e consonante, apercebo que o calor se retém em mim, mas não domina meu frio mais intimo, olho para as nuvens ralas e o que imaginar de minha procela pessoal, às vezes me provoca toda essa calma.

        No meu quintal há sempre zelo, um canto de preceitos, e a tigela na mesa cabem enxertos de palavras e madrigais, noites perdidas, insones. Não é possível ao peso da porta um engano do peso do pranto. Há duvidas, e meu medo é sombra, e arremeto em horas a custa de perdas, de tempos em tempos, são palavras de pessoas mortas.

         A necessidade de ir-se daqui é iminente, não bastando forçar sentimento, nem razão. Quase uma via sacra que torna-se de pedras e cipoadas, agora também o vinagre posto em vida, é nisso sempre uma tentativa a auto aprovação, trocam-se apenas as armas do algoz; mata-se mais por rejeição do que por qualquer meio violento. 

      Eis que nem sempre a dor é um flagelo infindo, mas certo, posto que a saudade também seja angustia dos que se foram ou virão; perdas e ganhos da alma, os homens são feitos de suas medalhas, triste constatação.

Algumas coisas não bastam na arte de sermos a imagem, buscar nela uma salvação, de viveres seguem-se de espaço, mas o pincel teceu destarte o céu de verão com imensidão azul celeste, abobada de anjos sacros de pinturas de Michelangelo, tocar de Deus.   

Tomam também suas folhagens varias, constante de airado, suas roupagens de florada etéreas a se renovarem a cada estação, pinceis não satisfazem a tinta sem tenazes esboços de seres, nem a terra que colhe vidas já causticadas foge a comparação das margens;

        Dormi e acordei num sonho, assombro de duvidas, crepuscular de mansidão; parece o estender-se ao fim da tarde. Parecem constatar obras de soturna ineptidão, e ao que chegar vespertino, espreita minha compleição, acredito sermos todos nós num arredio da própria alma, da exata não aceitação.
                                                                                                    (Cléber Seagal)