Tenra
idade, possivelmente não mais terei prazer em tão consolável época, doutra
forma como poderei viver de um mundo donde castelos eram feitos de tinta, com
pinceis à lápis e toda cera de cores aos quais o tempo não conserva. No mais,
não haveriam laços de ignorância esnóbil, nem maculas vindouras de completa
maturidade que trazem acerca da maioridade. Não me resigno ao simples que
lamenta o passado, mas me sinto aturdido ao ver que o tempo não desmontou
minhas memórias. Com certeza aos mais atentos destas linhas, viver-se-á nelas
por instantes, mesmo que resolutos, mas claros instantes... Que imperfeito
mundo fez de momento perene traço da simplicidade de uma criança.
Tenho
todas as certezas do mundo quando me refiro ao aprender que um infante traz
consigo, digo, que nascemos em maioria sós advindos de madre, aconchegados de
zelo e cheios de amor, mas também o digo a tantos que vivem de solidão e apenas
surgiram neste globo arremessados a própria sorte e duvida, aprendendo estes forçadamente
aos ares, a terra, a cor do céu e o conceber das estrelas como único benfazejo
amigo, e não poderia ser melhor instrutor a quem não tem os seus. E este menino
pobre acorda todas as manhãs visionário, mas não o faz pensando no futuro de
adulto que nunca quis ser, e sim como o de criança que sempre será no fundo do
peito. Seria certo que ele cresceria e quem sabe seria doutor, cobrador de
ônibus, lixeiro ou professor, bem, deixou-se imaginar ainda de sua vivencia de
menino pra ser dentro de seu próprio mundo o que queria; tudo o que quisesse.
Os
carros passam distantes, tanto quanto a mente daqueles que ali convinham, e
tantas silhuetas por dentro dos vidros escuros, e tão poucos de coração compreendido
que em vão têm; rude o dizem consigo: não o sei, nem lho conheço; menino sujo
de poeira e suor, talvez menino de rua? Rua de menino? E não lhos notam o
brincar singelo que pediria um abraço ou sorriso companheiro. E vi também que a
miséria não convive só entre os pobres de dinheiro, e que existem tantos tipos
de miséria.
Andarilho
que se fez conceber nos mínimos oferecidos, caçador de si, teimou a ler de tudo
que via, quando pouco arfava de pouco saber, ainda acredito ter ele maior
companhia na curiosidade, talvez pousada das notícias de jornais, dos livros
grossos sobrevindos, que tinham algo mais além das imagens. Montou as palavras
como fazia no quebra-cabeça do lixão, queria entender a maldade do homem, e a
morte da inocência, por que da dor? Por que tanta ciência se ainda outros como
ele pereciam? O sacolejar na barriga do garoto previa a fome que o perseguia
desde a noite anterior, doutra forma o menino sorria sozinho num repensar dos
homens que ali teimavam rápidos e intrépidos, eram olhos de criança esperançosa
que contrariavam desconfianças alheias, de pedinte que sempre fora naquelas
manhãs, e as brincadeiras não poderiam superar a algo tão supramente necessário
quanto à sobrevivência.
Todos
os dias são necessários a quem vive, de refazer-se dos erros do mundo, fatos
que ainda não nos demos conta e tanto pagamos por grande leviandade da carne, mas
mesmo quem existe está atento as tantas vidas que nos cercam, no entanto fazemo-las
não nossa, e quão grande fardo é ao ser ter de viver sem que sejamos nós mesmos,
relembro no garoto que passeava as ruas daquela cidade e catava ao lixo seus
brinquedos, seus livros e suas companhias, arquétipos de memórias; única sina,
e pormenores que a sociedade esqueceu, e que na desilusão fez rapsódia diuturna,
onde dormirás tão cabisbaixo anjo? Sua cama é do papelão escrito, enquanto o mundo
é sobre ele bicho-papão, tentando massacrar suas visões; na cidade cresce o
edifício e o homem definha, e quando realmente achará nele próprio o ser
humano?
Talvez
me interpelem: onde há prazer no auguro do abandono? Se não podemos culpar o
mundo, nem pais, nem ele próprio pode explicar ainda infantil destino, quanto
mais agora já adulto vos fala. Possivelmente algumas pessoas aprendem de
maneira difícil, e outras muito menos passam por cima de tudo e de todos, e
cegos e velhos não têm o que de bom relembrar em senil idade. se livraria o
garoto de todas as amarras das maldades que atentam a juventude, de vícios, e
de triste fim ao largo de sete palmos de terra? Não poderia ele se trancar
naquele mundo sem refazer o próprio, adulto se faria bem antes do tempo, algum
dia não haveriam mais migalhas, nem opróbrio escuro do noturno, mesmo as
calçadas não o reconheceriam pisar descalço por agora, nunca mais teria
companhia na fome, nem mesmo levantaria a mão de pedir, seria então testemunha
viva, que ninguém a percebeu, quem entenderia senão unicamente quem o sofreu;
de brinquedo aos pedaços, é de juntar forças e experiências necessárias a ser
diminuto nesta selva de pedras e crer-se menor no mundo, que por pior que seja
de alguns, reféns moramos todos nós.
(Cléber Seagal)
Salve meu querido!
ResponderExcluirTudo bem?
Fique à vontade para levar minhas palavras onde você achar que deve. Às vezes nossas mãos não alcançam outros jardins!
Bem vindo por lá pela Ilha. Volte sempre!
Abraços!