Dormi
e acordei num sonho, algumas ralas vezes me distanciei da realidade. Porque na
aurora de minha pessoalidade minha duvida abstrava. De modo que já tirei minhas
conclusões sobre as coisas deste mundo.
Uma vez amei o mundo, mas o mundo se abandonou... Todas
as perguntas ficaram no cotidiano, e as respostas perdidas na imensidão do
tempo... A terra já foi virgem lívida, mas tomaram seus intentos, e a
naturalidade do espaço está finita nas agruras de sermos.
Vivi
parte de minha vida sozinho, doutra parte adivinho o que serei, e mesmo assim
estando, sonho um canto de abalo vivo, que tão pouco resta a quem quer tanto
sobreviver...
É
necessário fazer-se de louco, despir-se também das futilidades do mundo, pensar
absurdos se não ter, quando eu pensei; fui, talvez fazer por merecer,
Imaginar-se banhando ao chover... é necessário ser forte para não morrer aos
poucos por dentro...
Algo
me diz; não tente ser o que não é, embora o mundo lhe abrigue mascaras de modo
a esconder suas lagrimas, não se distraia, a rudeza dos homens me é também
algumas vezes de valores estranhos e obsoletos.
Não
me sendo difícil chorar, o fiz em silencio, e no meu seio a vista baixou como
quem procura o chão, a cabeça ao peso dos problemas, carga pesada e fino
dilema, não encontrei apoio. Sozinho e infrutífero medo meu, não me escapa,
drena todo o ciclo de quem tenta, difícil ser alguém, difícil ser quem sou.
Tenho
alma triste, e como se bastasse a sorrir em meio aos problemas emulo-me, sou
mesmo esse escoar rígido e alheio de mim, mas minha tristeza lembra minha
humanidade plena, para lembrar que também há dores, prantos e lembranças...
Suas, minhas e de outrem, não se pode imaginar arco-íris, nem fadas e
super-homens na maturidade.
Sinto
o calor que chega, convindo uma marcha difusa e consonante, apercebo que o
calor se retém em mim, mas não domina meu frio mais intimo, olho para as nuvens
ralas e o que imaginar de minha procela pessoal, às vezes me provoca toda essa
calma.
No meu quintal há sempre zelo, um
canto de preceitos, e a tigela na mesa cabem enxertos de palavras e madrigais,
noites perdidas, insones. Não é possível ao peso da porta um engano do peso do
pranto. Há duvidas, e meu medo é sombra, e arremeto em horas a custa de perdas,
de tempos em tempos, são palavras de pessoas mortas.
A
necessidade de ir-se daqui é iminente, não bastando forçar sentimento, nem
razão. Quase uma via sacra que torna-se de pedras e cipoadas, agora também o
vinagre posto em vida, é nisso sempre uma tentativa a auto aprovação, trocam-se
apenas as armas do algoz; mata-se mais por rejeição do que por qualquer meio
violento.
Eis
que nem sempre a dor é um flagelo infindo, mas certo, posto que a saudade
também seja angustia dos que se foram ou virão; perdas e ganhos da alma, os
homens são feitos de suas medalhas, triste constatação.
Algumas
coisas não bastam na arte de sermos a imagem, buscar nela uma salvação, de
viveres seguem-se de espaço, mas o pincel teceu destarte o céu de verão com
imensidão azul celeste, abobada de anjos sacros de pinturas de Michelangelo,
tocar de Deus.
Tomam
também suas folhagens varias, constante de airado, suas roupagens de florada
etéreas a se renovarem a cada estação, pinceis não satisfazem a tinta sem
tenazes esboços de seres, nem a terra que colhe vidas já causticadas foge a
comparação das margens;
Dormi e acordei num sonho, assombro de duvidas,
crepuscular de mansidão; parece o estender-se ao fim da tarde. Parecem
constatar obras de soturna ineptidão, e ao que chegar vespertino, espreita
minha compleição, acredito sermos todos nós num arredio da própria alma, da
exata não aceitação.
(Cléber Seagal)