Ola!

"A felicidade não passa de um sonho, e a dor é real... Há oitenta anos que o sinto. Quanto a isso, não posso fazer outra coisa senão me resignar, e dizer que as moscas nasceram para serem comidas pelas aranhas e os homens para serem devorados pelo pesar."(Schopenhauer)

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O Principio das Horas

É rumado o ponteiro de opaco relógio, o silencio dos quartos na casa amontoam mais horas, coberta fria que tenta requentar esta mórbida obra, este terço de século acabado serás ainda coisa morta.

E lá fora o inacabado gelo dos viventes estende-se a uma fossa, de defeitos e sentenças, assolam a mim, que procura tanta razão nos seres, tanto crer e demente me sinto causticado, tolas horas minhas de reflexão dormente.

O passo diminuto de olhares ao chão, eu admiro os guarda-chuvas abertos em contraste das almas fechadas, improprio é todo o tormento, dos que passam e olham fingidores do bem; não os comovem as dores, das saudosas felicidades uma vez provadas.

Minhas unhas que crescidas machucam-me a apertar este zelo de lençol cor de carne, atolam-me numa rede, e sinto ainda um descompromisso contente com meus hábitos, solidez aflorando-me longe e de mim mais um dia ausente.

As aranhas a fiar nas paredes casas tocadeiras, os grilos lá de fora chamam parceiras, a luz ilumina a escuridão do meu lado, e as goteiras procuram resguardo no meu quarto, crendo-me noutro lugar de passado memorável, onde as preocupações não me metiam em bugalhos.

No relógio de segundos e minutos mais falhos de minha vida, inospito mal olhado, eu admiro o compasso finito das vindas, de todas as vidas que nos passa a arremessados, rápido num piscar, numa alcova diminuta minha, consome todos os meus pecados.

(Cléber Seagal)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Primavera Vermelha

As ruas estão em polvorosas, se estendem de andarilhos que se queixam, e alariam do pouco, o que é demais a quem sempre tem mais. O compasso do dia tende a vibrar, são gritos que provocam, chama a quem entende a causa, tocam a qualquer que conheça a ação.

Não há mais espaço nestas vias, neste alarde que conduz a diuturna aclamação, assume o pedido, a prosa nossa de tentar, resguarda os que dormem e os que amanhecem para trabalhar, é a força da coragem insone, é a prova de heroísmo que rompe a marginais.

A cidadela irrompe de vermelho nas praças, das casas de família, para o tempo, para a palavra de ignorância, tomando agora das vestes as mentes, e das mentes os corações já rubros de tanto sofrer, tanto lacrimar; lembram sangue já vistos noutros, abraços de socorro e sem ar.

Este pedido não tem trégua, não suporta mais o negar, o denegar omisso de poderes que de opróbio sufocam o trabalho de quem mais dele se eleva, consagra-se na luta diária. Comprova-se a faina nas dores familiares de sujeição cotidiana, e de nem sempre dos amados abraçar.

Das incertezas estes sujeitos vivem, são mártires homônimos constantes, a criança que lhe pediu ajuda o sabe, já foi cidadão que carece de defesa, sabe-o também a gravida que dele se valeu e a socorreu. A mão que tirou dos escombros e o corpo que de escudo também usava.

E as folhas caem em tempos, mas não cai a vontade desses homens que enfrentam a madrugada, que afrontam sonhos, e as rosas se confundem com suas cores, e com seus sentimentos, seus sacrifícios não compreendidos por quem nunca observou uma farda.
 
(Cléber Seagal)