Ola!

"A felicidade não passa de um sonho, e a dor é real... Há oitenta anos que o sinto. Quanto a isso, não posso fazer outra coisa senão me resignar, e dizer que as moscas nasceram para serem comidas pelas aranhas e os homens para serem devorados pelo pesar."(Schopenhauer)

domingo, 27 de abril de 2014

Noite de Epicuro



Ao céu aberto de pernoite,
Sou tudo de cada,
Enquanto chega-se a noite,
Deita-se o vento,
Entre arvores de nada,

E o meu pensar sustento,
Sobra-se cata-ventos,
Cada qual tempo, certo epiteto,
E encontro me quieto,

Minha alma passeia sobre o rio,
Minhas lembranças fragmentadas,
O desejo nos olhos tão vadio,
E a vida doce às pintadas,

Nas vias há clarões e pejo,
Mas a alma me cai,
São nostalgias do Tejo,
A calmaria traz uma cantiga,
Serena da terra, que se sobressai,

É a noite que me concilia,
No movimento dos astros,
E o dia virá como vem à vigília,
À sacramentar La Vie física,
Circular atemporal de átrios
Dessacralizando a metafisica,

O silencio da mata e a espreita restinga,
Outra vez, meu sentir deitar brisa,
Sem medos que eu deixava anseio,
O natural passeia sobre meu seio,
Como a dor, que já foi dissoluta lisa.

(Cléber Seagal)





sexta-feira, 25 de abril de 2014

Desejo sem nome



Minha boca na tua desaguas mil,
Estendendo a lua cheia e febril.
Esta cabeça assenta no teu colo,
Toco dia e noite meu consolo,

Horas ralas,
Tempos brancos em noites claras.
Vi um Quixote de encanto,
Sobre um seio-busto acalanto,

Corpo em rio,
Como criança crio,
Desenho rente ao chão,
Risco dum sonho tocado de afã,
Rendo-me conciso,
Força de leviatã,

Despojo de guerra minha, vejo,
Que se quer ensejar deuses, revejo,
Encontrada sob um signo de teimosia,
Bebi sob horas o sabor de ambrosia.



(Cléber Seagal)