Ola!

"A felicidade não passa de um sonho, e a dor é real... Há oitenta anos que o sinto. Quanto a isso, não posso fazer outra coisa senão me resignar, e dizer que as moscas nasceram para serem comidas pelas aranhas e os homens para serem devorados pelo pesar."(Schopenhauer)

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Incompletude

Tenho a aridez dos antigos desertos,
E a mudez dos montes airados,
Que sem teu alento, me findo desvairado,
Mimético seu, soo de tudo cético,
Meu corpo consolado no vento,
Sou tão inerte como teu,
E como me consolo de enxertos,
Que imitam teu abraço,
Um lençol opaco e um pensar flácido,
Simulam revoada de pássaros,
É o tempo, espírito de ácido fausto,
Alimentando ansejos, esperando leigo,
A solução de tua chegada à custo,
Oh! sem limite sobrevoam tua espera,
Eu néscio de outra dor, ou privilegio,
Sirvo e prossigo no espírito de um sóror,
Da tua santidade na fala,
A tua leveza que plaina sem pudor,
Ávido, desço de joelhos,
Sob a santa imagem em sala,
Que o amor abotoou, dádiva,
Que me nunca negou seus palácios,
És um ímpeto dos desejos meus,
Todo dia sem ti, é página virada,
Outra coisa que falte é incomodo e modorra,
Para o alheio conhecimento dos Céus,
Há santidade na tua mirada.

(Cléber Seagal)

domingo, 11 de maio de 2014

Passagem

É pequena a inocência,
De quem não soube tomar o tempo,
Grande demais para a eloquência,
De sentidos barrados num cais,

Doce pequena órfã a miséria...
Não escolhe pele, nem ais,
Criança que saboreia a janela,
Até ver chegar seu anoitecer,

O relógio é tão diminuto,
A quem deita Hypnos para si,
E maduro, os homens se intitulam,
É inevitável o Tânatos chegar-se,

Flores murcham sem pressa,
Na troca das épocas,
Eterno repetir de séculos,
Humanidade de represa,

Note a angustia da passagem,
Sem dor que se anote,
E a perdição encontrada na estrada,
Marcada nas pegadas,

A criança dorme sobre o travesseiro,
O dia inteiro sonha rosas...
E o adulto neste aguaceiro por querer,
Querer-se de tanto espelhos,

O vidro quebrado excelso sedutor,
Rosto demarcado, lapso de forças,
Caído ao chão, lágrimas demarcadas,
Terror da cor que se dão,

Signo triste é a finitude,
As folhas caem em marca tempo,
As árvores insistem, naturalmente,
O homem não.

(Cléber Seagal)