Este chão de espezinhar intragável,
Em olhar rarefeito para trás,
A vida me olha, e me traz,
Tantas saudades tuas,
E a dúvida derradeira que jaz,
Em ondas que vem e que vai,
Encostar n’agua, pernas suas,
Uma corrente me puxa e sai,
Todas magoas tuas...
E descubro o mar que é o não,
Não te ter e assim ser são,
Uma ave redescobre o céu,
E em cinza nuvens ao léu,
Espaçamento no vácuo que olho,
Eu busco teu olhar e me molho,
Não na pureza do mar,
Mas nas lágrimas que me assolam,
Aves que a enseada cantam,
Se deixaram levar,
Teu lembrar, arrevoada de pássaros,
Que deixam terra e fogem vista,
E eu em pleno gozo assisto raros,
Tua imagem linda e forte me revista,
E a barcarola do esquecimento desce,
Toda a infinitude verde-azul,
Parece que meu amor só cresce,
E tinge a pintura em tom cru,
O amor não apaga e não aceita recuo.
(Cléber Segall)