A ribeira que sobre o mar desce,
Molhando todas as passagens,
Em fins de termino as margens,
Vai devagarinho e só cresce,
Sem sentir e já sendo todo vasto,
Que beleza se faz como pasto,
Que em verde se desfaz em lago,
Parece invadir-me o que trago,
Toda lembrança já sentida,
De uma alma certa vez ainda,
De dor que foi-se e não mais,
Se compraz; abraço hoje e vais,
A memorar meus esses desejos,
E toda alma de umbrais desterros,
Dos que não sonham nosso mais,
Nem provam tanto amor nos Ais,
Se para tanto, ninguém será,
Meu amor no teu amor e dirá;
Seremos santos a derramar,
Abraços, beijos de imaginar,
Somos todo o tempo de espaço,
Que nem as margens podem conter,
Corredeiras naturais a se manter,
Que para sempre seremos laço,
Os duvidosos serão verbo crasso,
Que de nada poderão fazer lasso,
Porque o mar, Tu estarás lá para ser,
E da ribeira, Eu, crescerei para ti ter.
(Cléber Seagal)