Ola!

"A felicidade não passa de um sonho, e a dor é real... Há oitenta anos que o sinto. Quanto a isso, não posso fazer outra coisa senão me resignar, e dizer que as moscas nasceram para serem comidas pelas aranhas e os homens para serem devorados pelo pesar."(Schopenhauer)

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Do Reflexo


Esta imagem lírica que visto
Não é a imagem minha que dito
Nem o corpus que assemelha ao texto
Todo este encanto juvenil é pretexto,

Reflexo dum viver, sobra de plebeu
Esses medos que tanto insisto me comeu
Fugas de mim quando muito é sorte
O assombro pérfido ao dormir de açoite,

Breves discordares do limiar meu
Quem dera ser a coruja, que o noturno chama
Quem dera não ser lama, que ainda vais morrer
Não sou nada, nem isto, nem teu,

A terra toda clama minha sepultura
Os ventos trazem pesarem nunca minha cura
E o tempo juiz de meu penar na vista some
Sou mal olhado que na criança consome,

As pendengas que sondam o viver
O latim posto a prova e a discorrer
Carne, insígnia de pecado desmonte
És corpo todo cheio feito Aqueronte,

Minhas palavras secas e tortas de amargura
Já fui ensejo de olhares e candura
E não quero meu passado rabiscado
Nem quero este presente retocado,

Que todos os dias forçam-me a não ser
Tantos males no mundo a transparecer
Digo, este sorriso é mudo e inconsolo
Outros que se queixem não verão em mim dolo,

Quem dará solução ao mundo?
Nem papas, nem rabinos
Nem mestres adivinhos
Serei eu o só de defeitos, o imundo?

Não há sossego que me fuja do que sou
E no espelho vejo toda a fuga que me clamou
São duas rubricas, fé e angustia que anda
Porteiras por onde meu coração desanda,

Meus passos tão cansados de mim
Muitos sois, marca de carmesim
Muitas luas, choque de sentimento
Meu peito, meu consolo tormento,

Pois que te digo quão refletido
Esta imperfeição funesta do adquirido
Nasceu em mim, e por mim terminará
A vida fez-me mínimo e a terra me tomará.

(Cléber Seagal)

Outono ou Intermitência das Idades


Gosto quando chega o outono e as folhas caem, lembrou-me algo inevitável. Mesmo que durante anos foram-se às imagens de minha memoria; O melhor de tudo era ser o mais simples tolo que se poderia não notar, pois que os outros são incompletos por si, serei incompleto por mim.
Uma vez me imaginei sozinho, mas quando nos conhecemos noutro temos a certeza de tantos outros refletidos em si insistem, daí nos conhecemos por intermédio de terceiros, e que a formalidade do universo é a compleição do coletivo.
Então essas coisas sem sentido na alma humana fazem girar a cabeça de todas as existências, melancolia que mais parece sabia, do que mais um homem que queira ser insólito, e as sobras são palavras pós-ditas, mas minhas memorias são apenas do agora mostradas.
Todos têm cartas de segredos, dos mais fracos ou fortes, entre primeiros e últimos, a velhice nos oprime a reabri-las até que chegue o fim do corredor, fazemos parecer que não queremos reaver a realidade, mas coexistimos a ela.
Digo que não devemos deixar que as pessoas escapem as nossas mãos, embora o destino nos negue o eterno, e no entanto as deixamos passar sem tocar... E sentimos que não sabemos o que sonhamos.
É triste imaginar que o tempo é escasso, mas tudo acaba mesmo, e as pessoas mais orgulhosas nem notariam na diferença. Caminhar é o melhor que se pode fazer, se é que se pode fazer isso para frente.
Às vezes a poesia pairou sobre mim feito uma gaivota arredia da terra, complexada do mar na busca de alimento, e trespassa minha mente a sinceridade transvestida dos ventos das colinas que, só não me entristecem porque falo de alguém dos meus sonhos.
Das vezes que passeamos em sonho, ora somos todos sonhos de alguém, no entanto as dores que sentimos em vida, os gritos não ouvidos são laços do não compreendido... Acredite que a vida não é só isso, ou creia-se falando sozinho sem sentimentos.
Creio que este ano minhas pernas estão mais cansadas, meu pensar não é mais o mesmo, e a beleza que já não foi tanta é agora parceira dos demais males da idade, e mais do que os outros viventes já sei do meu amanhã.
Eu buscaria meu fim se assim pudesse, mas minha vida valeu a pena de todos os ares, sinto-a verdadeiramente constante, e num osculo marginal me serve de simbiose ao amanhã. Natural, porque na natureza observa-se que buscamos o fatal de maneira irrevogável, feito o macho da viúva-negra, assim também se distingue o homem para as abstrações do mundo, onde o prazer cumpre sua meta, e a morte cobra seus pesares.
Creio também que as pessoas não são coisas, elas algum dia fogem de nós e do mundo, porque não nascemos aprendendo a entender percas, pois na morte a única coisa que nos une é a posição do corpo no caixão.
Outrora eu senti o vento fresco da campina, outrora eu nunca quis me imaginar noutros planos, e agora nem a febre me deixa, e meus sonhos já não são mais tantos. Que o diga minhas pernas, na pele e em vista conduzo-me ao ultimo degrau das existências; o beco estreita-se.

(Cléber Seagal)