Gosto
quando chega o outono e as folhas caem, lembrou-me algo inevitável. Mesmo que
durante anos foram-se às imagens de minha memoria; O melhor de tudo era ser o
mais simples tolo que se poderia não notar, pois que os outros são incompletos
por si, serei incompleto por mim.
Uma
vez me imaginei sozinho, mas quando nos conhecemos noutro temos a certeza de
tantos outros refletidos em si insistem, daí nos conhecemos por intermédio de
terceiros, e que a formalidade do universo é a compleição do coletivo.
Então
essas coisas sem sentido na alma humana fazem girar a cabeça de todas as
existências, melancolia que mais parece sabia, do que mais um homem que queira
ser insólito, e as sobras são palavras pós-ditas, mas minhas memorias são apenas
do agora mostradas.
Todos
têm cartas de segredos, dos mais fracos ou fortes, entre primeiros e últimos, a
velhice nos oprime a reabri-las até que chegue o fim do corredor, fazemos
parecer que não queremos reaver a realidade, mas coexistimos a ela.
Digo
que não devemos deixar que as pessoas escapem as nossas mãos, embora o destino
nos negue o eterno, e no entanto as deixamos passar sem tocar... E sentimos que
não sabemos o que sonhamos.
É
triste imaginar que o tempo é escasso, mas tudo acaba mesmo, e as pessoas mais
orgulhosas nem notariam na diferença. Caminhar é o melhor que se pode fazer, se
é que se pode fazer isso para frente.
Às
vezes a poesia pairou sobre mim feito uma gaivota arredia da terra, complexada
do mar na busca de alimento, e trespassa minha mente a sinceridade transvestida
dos ventos das colinas que, só não me entristecem porque falo de alguém dos
meus sonhos.
Das
vezes que passeamos em sonho, ora somos todos sonhos de alguém, no entanto as
dores que sentimos em vida, os gritos não ouvidos são laços do não
compreendido... Acredite que a vida não é só isso, ou creia-se falando sozinho
sem sentimentos.
Creio
que este ano minhas pernas estão mais cansadas, meu pensar não é mais o mesmo,
e a beleza que já não foi tanta é agora parceira dos demais males da idade, e
mais do que os outros viventes já sei do meu amanhã.
Eu
buscaria meu fim se assim pudesse, mas minha vida valeu a pena de todos os ares,
sinto-a verdadeiramente constante, e num osculo marginal me serve de simbiose
ao amanhã. Natural, porque na natureza observa-se que buscamos o fatal de
maneira irrevogável, feito o macho da viúva-negra, assim também se distingue o
homem para as abstrações do mundo, onde o prazer cumpre sua meta, e a morte
cobra seus pesares.
Creio
também que as pessoas não são coisas, elas algum dia fogem de nós e do mundo,
porque não nascemos aprendendo a entender percas, pois na morte a única coisa
que nos une é a posição do corpo no caixão.
Outrora
eu senti o vento fresco da campina, outrora eu nunca quis me imaginar noutros
planos, e agora nem a febre me deixa, e meus sonhos já não são mais tantos. Que
o diga minhas pernas, na pele e em vista conduzo-me ao ultimo degrau das existências;
o beco estreita-se.
(Cléber Seagal)
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