Ola!

"A felicidade não passa de um sonho, e a dor é real... Há oitenta anos que o sinto. Quanto a isso, não posso fazer outra coisa senão me resignar, e dizer que as moscas nasceram para serem comidas pelas aranhas e os homens para serem devorados pelo pesar."(Schopenhauer)

sábado, 23 de abril de 2011

Uma Flor Para Narciso

Você é feito rosa em vales que se deixa nascer,
Mas quem te vê crescer deseja o céu

O amor rompeu fronteiras para a encontrar na beira do lago,
Enquanto de agrado teu reflexo a faz viver

As nuvens passam e falam;
Lá se vai a criatura que a terra deslumbra
De dia e ao entardecer

Não é so da natura a pureza,
Criação de Deus na destreza,
O sol que me aquece, me acolhe
mesmo que a propria morte assim venha a fazer

Imagino-te quando os sonhos são um pouco mais do mesmo
E que estou sempre ao teu lado o dia inteiro

O teu amar com meu amar é sonho,
Cada segundo como se fosse o ultimo

O teu cantar acaricia meu medo
E a tua boca faz girar meu senso

Esse olhar me faz lembrar donzelas,
Que das estorias fez tornar mais belas,
De amor.

(Cléber Seagal)

Liberdade?

Ai miserável de mim e infeliz!
Apurar, ó céus, pretendo,
já que me tratais assim,
que delito cometi
contra vós outros, nascendo;
que, se nasci, já entendo
qual delito hei cometido:
bastante causa há servido
vossa justiça e rigor,
pois que o delito maior
do homem é ter nascido.
E só quisera saber,
para apurar males meus
deixando de parte, ó céus,
o delito de nascer,
em que vos pude ofender
por me castigardes mais?
Não nasceram os demais?
Pois se eles também nasceram,
que privilégios tiveram
como eu não gozei jamais?
Nasce a ave, e com as graças
que lhe dão beleza suma,
apenas é flor de pluma,
ou ramalhete com asas,
quando as etéreas plagas
corta com velocidade,
negando-se à piedade
do ninho que deixa em calma:
só eu, que tenho mais alma,
tenho menos liberdade?
Nasce a fera, e com a pele
que desenham manchas belas,
apenas signo é de estrelas
graças ao douto pincel,
quando atrevida e cruel,
a humana necessidade
lhe ensina a ter crueldade,
monstro de seu labirinto:
só eu, com melhor instinto,
tenho menos liberdade?
Nasce o peixe, e não respira,
aborto de ovas e lamas,
e apenas baixel de escamas
por sobre as ondas se mira,
quando a toda a parte gira,
num medir da imensidade
co’a tanta capacidade
que lhe dá o centro frio:
só eu, com mais alvedrio,
tenho menos liberdade?
Nasce o arroio, uma cobra
que entre as flores se desata,
e apenas, serpe de prata,
por entre as flores se desdobra,
já, cantor, celebra a obra
da natura em piedade
que lhe dá a majestade
do campo aberto à descida:
só eu que tenho mais vida,
tenho menos liberdade?
Em chegando a esta paixão
um vulcão, um Etna feito,
quisera arrancar do peito
pedaços do coração.
Que lei, justiça, ou razão,
nega aos homens – ó céu grave!
privilégio tão suave,
exceção tão principal,
que Deus a deu a um cristal,
ao peixe, à fera, e a uma ave?

 
MONÓLOGO DE SEGISMUNDO
(LA VIDA ES SUEÑO, Ato I, Cena I)

de Pedro Calderón de la Barca

Tempestade de Verão

Estar triste é ver no silencio o que da face é notório de sentir
entender que palavras antes amargas jamais serão ditas 
e que no nunca ouvir serão da surda compreendidas
no mais, tristes relidas pra remir

Que o passado é dor incólume, o presente inerte de duvida, 
e o futuro de promissor despedida
Eles vêem tudo, nada dizem e o pensar absorto e livre me ensina, 
que com penar se aprende, não se cria

Para quê ser bonito de se ver, e em não tocar de se ter 
e o lindo não é mais do que o iludido
como é dificil o ser
qual tanto falta ser aprendido

É quando parece dormente meu Eu
onde não haver de ser talvez obra finda, 
que rasga o céu e planta vida,
do que deverias ser seu

Que colho ao ar rima, 
renego a arvore, a terra e a lira, 
e o universo divisório aborta, 
meu olho em si encosta
e não é nem mar, nem céu, nem terra…
é triste fim que se encerra.

(Cléber Seagal)

Semeeiro

O homem traça na terra seu rumo
da vivente sina do melhor
de ir pra lá e pra cá tece prumo
e gorjeia sereno todo o suor

O céu aponta ardente clima
esta labuta tende a ser necessaria
nosso senhor entende lá de cima
sol a pique nuvem rala, ô refazenda diaria

Se Caisse do firmamento agua
a cura de todos os males do seco
não carecia ser ardua
rogar ao bom Deus este apreço 

Explica-me ô mestre semeeiro
ei de viver minhas lutas
que rijo, que candeeiro
sem males, sem cortes, sem fugas.

(Cléber Seagal)