Depois de alguns minutos eu me acercava do batente da escada, deixava-me tomar serenamente do tempo que me era até então compassivo, parecia que me preparava para o ensejo. Derreado o céu cumpria seu destino... Eu me molhava... Sentia as gotículas uma a uma e meus olhos brilhavam, pareciam preces celestes.
Eu contava cada impressão d’água na pele como estrelas que cismavam num cerne introspecto da madrugada. Eu apenas ouvia o barulho da chuva, o desaguar que escorre pelo chão são minhas angústias, desesperanças a irem de mim carregadas por torrentes, para mim o passado desta tempestade já foi medo, agora admiro minhas alegrias.
Passeei pela cidade, um andarilho que seguia a luz difusa dos postes, vez por outra me encostava às biqueiras artificiais, cada trecho que passava meu discernimento se contemplava das marginais solitárias, tergiversei meus rumos... Aqueduto de liberdade em que poucas vezes naveguei, desde criança não sonhava tanto.
Terminei sentado na escada, observando a velocidade do temporal, hora eu marejava, hora a força n’água parecia conversar com o sereno. Senti que tudo me tocava numa nostalgia de acertos e erros, numa das primeiras vezes em minha vida não quis que a agua parasse, o frio me convinha num céu escuro de infindáveis pensamentos, confortável a tanta agua, por que naquele momento eu também era ela.
(Cléber
Seagal)