Ola!

"A felicidade não passa de um sonho, e a dor é real... Há oitenta anos que o sinto. Quanto a isso, não posso fazer outra coisa senão me resignar, e dizer que as moscas nasceram para serem comidas pelas aranhas e os homens para serem devorados pelo pesar."(Schopenhauer)

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Redoma



Eu que sonhei e já vi todos os planos,
Observo o que tanto receio,
Me envolto, me iludo no espaço ignoto,
Em que cada passo a frente no tempo,
É um passo a menos na vida,

O tempo no convencimento intimo dos anos,
Com sua procrastinação constante,
Que come pormenores e avança,
Se lançando no ponteiro das épocas,
Angustia do compassar,

Nos trajes, nas pessoas,
Dos diálogos desconexos,
impressões que tenho do mundo,
Fazer mudar minha opinião,
Como uma vara de ditadura,

Cada minuto uma luta, e eu celerado...
No compasso de um momento fui todos,
Todos os medos e ao mesmo tempo,
Um respeito pela utilidade dos fatos,

Minha cara resignada, meu olhar vago,
Tão modico no contrastar de sentimentos,
Uma redoma alcançável de nostalgia,
Enquanto grito ressentido no vidro,

De silêncio faram-se os dias,
E direi; ontem eu estavas,
Num sótão, parede ou chão subenterrado,
recostado, onde Eu fui uma jornada...

(Cléber Seagal)



segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Declaração à Mãe Terra


Deitado a areia em pleno sol, alvissareiro como o mel,
Era por de agrado sentir aquilo,
Aurora veemente que muito me animava,
E dava razões para qualquer mortal viver...

Ao tempo que via o sol nascer rente das montanhas,
Espairecer meus cânticos, sente-se que ao crescer,
A vida se torna resguardo de eternas saudades...

Cairia eu sob tigelas de estranhos e devassos,
Mas morreria de amores por ti,
Meu celibato, minhas vistas sãs; tudo formoso,
Uma epifania desnuda dum Dedalus reluzente,
Que em ícaro lamentou-se ao sol; Não tocar,

Vejo águas, correntes de mar, e meu sopro urgente,
Ainda vejo a terra chorar torrentes de lagrimas,
Vindas de nuvens que passeiam destemperadas,
No entanto me banho em tuas nascentes como nunca,

Da terra que me toca o coração, me fazendo voar;
Perante os pardais que assentem ao cercado,
Desfruto junto aos deuses criadores de minha mãe,
Esta que me acalenta aos abraços; trêmulos,
De tantas injurias; humanas, consumindo...

Recaem seus cachos mais belos e duradouros,
Derrubam-no com laminas tristes; choradas,
Inclinadas, de que tanto cortam extenue,
Quando menos queimam sob o fogo,

Jazidas de seus interiores mais intrépidos tremem;
Explodem inaceitáveis, tudo finda natureza,
Como bem se queira recebê-la, instável,

Pois que eu queria chorar ao ver aquela cena,
Mas me faltaram palavras para expressar,
E o meu triste sentimento a se constatar debruçado,
Num arcabouço ao relento, homem, pedra, cimento,

Necessito eu da carne, entre ossos, entre almas,
entre mentes, sentir-se humano e abraçar a causa,
Sabendo-se tanto que ao que sai do coração de minha mãe,
Foge a alma dos homens,

Nasci nisto, num misto de alegria de Gaia e revolta urbana,
Morrerei num eterno supor, sabendo que vou chorar,
Na tristeza de ficar, sei que ainda posso me alegrar;
Olhando este vasto natural do infinito,

De que todos caem aos seus pés de tão bela;
A folha de outono, o fruto da primavera,
Meus joelhos caem, como minhas lágrimas,
Derreadas sobre meu constante pensamento,
Rendendo-me ao sabor dos ventos matutinos,
Se penso em perdê-la, inadmito,

Tua lua e o teu sol são olhos que ao perceber,
Sinto que tuas magoas parecem agora uma rotina,
Inspirada, transcendentalizada por mim,

Nas minhas inspirações que por ti interpreto,
A minha alegria é poesia,
Na tristeza obstante deu estar perto de ti,

E tu que nasceste em todos os lugares,
Do nascente ao poente,
que pinta ao mar em tons azuis matinais,
E vermelhos tardios,

Com desejos me salva do destino mais cruel,
Que é viver sem o teu teto de estrelas,
Rege portanto meus sonhos,
E deságua em mim tua beleza mais profunda.


(Cléber Seagal)