Ola!

"A felicidade não passa de um sonho, e a dor é real... Há oitenta anos que o sinto. Quanto a isso, não posso fazer outra coisa senão me resignar, e dizer que as moscas nasceram para serem comidas pelas aranhas e os homens para serem devorados pelo pesar."(Schopenhauer)

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Declaração à Mãe Terra


Deitado a areia em pleno sol, alvissareiro como o mel,
Era por de agrado sentir aquilo,
Aurora veemente que muito me animava,
E dava razões para qualquer mortal viver...

Ao tempo que via o sol nascer rente das montanhas,
Espairecer meus cânticos, sente-se que ao crescer,
A vida se torna resguardo de eternas saudades...

Cairia eu sob tigelas de estranhos e devassos,
Mas morreria de amores por ti,
Meu celibato, minhas vistas sãs; tudo formoso,
Uma epifania desnuda dum Dedalus reluzente,
Que em ícaro lamentou-se ao sol; Não tocar,

Vejo águas, correntes de mar, e meu sopro urgente,
Ainda vejo a terra chorar torrentes de lagrimas,
Vindas de nuvens que passeiam destemperadas,
No entanto me banho em tuas nascentes como nunca,

Da terra que me toca o coração, me fazendo voar;
Perante os pardais que assentem ao cercado,
Desfruto junto aos deuses criadores de minha mãe,
Esta que me acalenta aos abraços; trêmulos,
De tantas injurias; humanas, consumindo...

Recaem seus cachos mais belos e duradouros,
Derrubam-no com laminas tristes; choradas,
Inclinadas, de que tanto cortam extenue,
Quando menos queimam sob o fogo,

Jazidas de seus interiores mais intrépidos tremem;
Explodem inaceitáveis, tudo finda natureza,
Como bem se queira recebê-la, instável,

Pois que eu queria chorar ao ver aquela cena,
Mas me faltaram palavras para expressar,
E o meu triste sentimento a se constatar debruçado,
Num arcabouço ao relento, homem, pedra, cimento,

Necessito eu da carne, entre ossos, entre almas,
entre mentes, sentir-se humano e abraçar a causa,
Sabendo-se tanto que ao que sai do coração de minha mãe,
Foge a alma dos homens,

Nasci nisto, num misto de alegria de Gaia e revolta urbana,
Morrerei num eterno supor, sabendo que vou chorar,
Na tristeza de ficar, sei que ainda posso me alegrar;
Olhando este vasto natural do infinito,

De que todos caem aos seus pés de tão bela;
A folha de outono, o fruto da primavera,
Meus joelhos caem, como minhas lágrimas,
Derreadas sobre meu constante pensamento,
Rendendo-me ao sabor dos ventos matutinos,
Se penso em perdê-la, inadmito,

Tua lua e o teu sol são olhos que ao perceber,
Sinto que tuas magoas parecem agora uma rotina,
Inspirada, transcendentalizada por mim,

Nas minhas inspirações que por ti interpreto,
A minha alegria é poesia,
Na tristeza obstante deu estar perto de ti,

E tu que nasceste em todos os lugares,
Do nascente ao poente,
que pinta ao mar em tons azuis matinais,
E vermelhos tardios,

Com desejos me salva do destino mais cruel,
Que é viver sem o teu teto de estrelas,
Rege portanto meus sonhos,
E deságua em mim tua beleza mais profunda.


(Cléber Seagal)










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