Em colossal prédio de tão comum
arquétipo citadino, ao qual cobre com demasia as arvores das ruas mais
urbanizadas da capital, reside um senhor de meia idade, serio e prolixo no
pensar, desorganizado no deitar e cheio de magoas anárquicas. Não há surpresa
no deleite do quarto, no descanso enganado do apartamento, em que cada passo no
subir de escadas é mais um passo esperado, sem visitas, sem horas programáveis,
há um vácuo entre o que esperar, ou do que mesmo não saber do amanhã. Seria
próprio do mesmo compassar, dos barulhos de carros, do casal que discute
repetidas vezes sobre o que faltou do que mais falta, repensar sobre a hora do
café matinal, o almoço, um jantar típico e tentar dormir... Alvoroço das
corujas e acordar no canto dos pardais, cotidianamente, ainda sob as mesmas
luzes de ideias em regurgitar que já lhe soa demente.
Assim, mais descomplicadamente na
manhã acende um cigarro e entorna o café com pão integral, os dedos coçam
fusos, a mente ora sim e não, convulsa, tenta martelar mais ideias, pega uma
caneta tinteiro, presente do avô quando concluía a faculdade. É mais um carrego
de lembranças, como a tinta que depois de um tempo se esvai... Uma, duas horas
e os rabiscos sedimentados no papel produzem um cenáculo de cores desbotadas,
algumas paginas são rasgadas diligentemente como na vida separou-as de um certo
fim. Os escritos somem-se em sua busca alucinada pelo contar, passa a linha
sobre nada e deixa reticências, se no quarto não vê concilio entre sua mente e
o que deve transcrever, mais anda inoculado pelos cômodos, a recapitular os
conflitos do que poderia ser, que não se acha sem saber discorrer.
Um dia todo que lhe rendeu uma pagina
a ser dicotomizada, e ele deita sorrateiro num colchão gasto, seu único espaço
de descanso, de uma mente árida e sufocante, não se sabe se por angustia do
nada, dormiu de lampejo, sonhou um mundo de coisas que suas ideias não
disponibilizavam. Faceiro imagina que já teve infância, álem do travesseiro manchado, há um segundo que desbota em espera.
Um senhor lá em baixo, andarilho por
si, corta a noite como quem livra o fardo do dia. É despreocupado o pisar, sem
sons a noite segue, coruja de igreja, um cão faceiro...queria que meu pensar
seguisse esse curso de igual molde, compassado. Esses seres noturnos, agora
mudos parecem espreitar, como eu espreito todo o mundo. Não é que me deito sem
analisar, mas vejo mais gente no pouco que a sombra ajeita, parece descuidar
dos homens que entrecruzam-se no dia, entretanto quanto menos pessoas mais
olhares. E eu precisava de estar ali, de sentir a rua mais humana sem
aglomerados de gente, e mais taciturnamente mundana. Os olhos veem de cada vez,
como o meu coração a celebrar pela janela o que eu irrelevava".
De cada vez, uma senhora já idosa, no prédio vizinho anda de um lado para o outro na espreita, vi ali armada, uma gaiola dependurada como um nada, sem bichos nem leitos, e eu me ajeito sobre o parapeito como estudioso dos trejeitos, a senhora pega um telefone que insiste tanto digitar, parece não completar o dialogo da ligação. Ela se presta a sentar, a amargar um choro engolido, tem gritos que não se precisa ouvir, é só notar a decepção, as vezes quando a resposta não vem como queremos, nos iludimos. E aquela mulher passou horas naquele regimento de desespero, daqui a pouco nem eu dormia até cochilar já de manhã.
um senhor sentava-se a mesa, e (...)"Rasteiro, escorregadio e embebido esse homem... dessa forma a cerveja era sobre ele um cais, o balcão extenso como a contagem de horas nuas que o conduzia a prostração, sim as lâmpadas não são estrelas, sem mais imagens de própria correção, passionato! porque somos como quem se embriaga vendo a noite, e mundo são obras de interdição".
De cada vez, uma senhora já idosa, no prédio vizinho anda de um lado para o outro na espreita, vi ali armada, uma gaiola dependurada como um nada, sem bichos nem leitos, e eu me ajeito sobre o parapeito como estudioso dos trejeitos, a senhora pega um telefone que insiste tanto digitar, parece não completar o dialogo da ligação. Ela se presta a sentar, a amargar um choro engolido, tem gritos que não se precisa ouvir, é só notar a decepção, as vezes quando a resposta não vem como queremos, nos iludimos. E aquela mulher passou horas naquele regimento de desespero, daqui a pouco nem eu dormia até cochilar já de manhã.
um senhor sentava-se a mesa, e (...)"Rasteiro, escorregadio e embebido esse homem... dessa forma a cerveja era sobre ele um cais, o balcão extenso como a contagem de horas nuas que o conduzia a prostração, sim as lâmpadas não são estrelas, sem mais imagens de própria correção, passionato! porque somos como quem se embriaga vendo a noite, e mundo são obras de interdição".
(Cléber Seagal)