Não é a imagem minha que dito
Nem o corpus que assemelha ao texto
Todo este encanto juvenil é pretexto,
Reflexo dum viver, sobra de plebeu
Esses medos que tanto insisto me comeu
Fugas de mim quando muito é sorte
O assombro pérfido ao dormir de açoite,
Breves discordares do limiar meu
Quem dera ser a coruja, que o noturno chama
Quem dera não ser lama, que ainda vais morrer
Não sou nada, nem isto, nem teu,
A terra toda clama minha sepultura
Os ventos trazem pesarem nunca minha cura
E o tempo juiz de meu penar na vista some
Sou mal olhado que na criança consome,
As pendengas que sondam o viver
O latim posto a prova e a discorrer
Carne, insígnia de pecado desmonte
És corpo todo cheio feito Aqueronte,
Minhas palavras secas e tortas de amargura
Já fui ensejo de olhares e candura
E não quero meu passado rabiscado
Nem quero este presente retocado,
Que todos os dias forçam-me a não ser
Tantos males no mundo a transparecer
Digo, este sorriso é mudo e inconsolo
Outros que se queixem não verão em mim dolo,
Quem dará solução ao mundo?
Nem papas, nem rabinos
Nem mestres adivinhos
Serei eu o só de defeitos, o imundo?
Não há sossego que me fuja do que sou
E no espelho vejo toda a fuga que me clamou
São duas rubricas, fé e angustia que anda
Porteiras por onde meu coração desanda,
Meus passos tão cansados de mim
Muitos sois, marca de carmesim
Muitas luas, choque de sentimento
Meu peito, meu consolo tormento,
Pois que te digo quão refletido
Esta imperfeição funesta do adquirido
Nasceu em mim, e por mim terminará
A vida fez-me mínimo e a terra me tomará.
(Cléber Seagal)
Foge, o poeta, da metáfora que encontra no espelho. (Eduardo Galeano)
ResponderExcluirMaravilhosa visita, muito obg, seja sempre bem vindo amigo de letras, abcs!
ExcluirSeria Augusto dos Anjos, a inspiração destes versos? Muito bom mesmo, parabéns...
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