Ola!

"A felicidade não passa de um sonho, e a dor é real... Há oitenta anos que o sinto. Quanto a isso, não posso fazer outra coisa senão me resignar, e dizer que as moscas nasceram para serem comidas pelas aranhas e os homens para serem devorados pelo pesar."(Schopenhauer)

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Perca e Queda



Algumas vezes a felicidade bate a nossa porta, outras vezes não, de alguma maneira ela pode vir na forma de um sorriso, às vezes um beijo e as palavras também contam bastante quando um querer nos chega.  Vitor precisou sair um pouco, arejar as ideias além do coração, porque os cadernos da faculdade já não suportavam seus escritos, e nem o peito suportava de saudade. Na porta já vinha um pedinte, pois estendeu-lhe as mãos a necessitar, o moço entregou as moedas que se tinha e por um instante aquele dinheiro foi à felicidade daquele pedinte e a pressa de quem entregara. O caridoso seguiu a diante rua abaixo com suas longas pernas, e não demoraria muito a encontrar o que desejava pensou ele.
O sol bravejava seus olhos, pensou em voltar e por uns óculos escuros, como também um boné que protegeria sua inicial calvície, mas não queria perder nenhum minuto do dia por um detalhe ínfimo e talvez estético, adiantou seus passos, e ainda na descida via pessoas aproveitando o sábado, nas conversas e brincadeiras das crianças nas calçadas. Na verdade era um encontro de todos que na semana não deixava margem para a saudade que ele também jurava aplacar. Pensou também em sentar-se a falar com o ancião da esquina, mas saberia que a conversa iria demorar... Falariam principalmente da diferença dos tempos antigos para os atuais, mas na volta quem sabe eles se atualizariam.
Da casa de Vitor até a casa de Amália levaria apenas cinco quadras, fato que provaria estar perto não somente do coração da moça como também da casa dela. Vez por outra olhava o celular para ver se ela não tinha ligado, mas não queria também deixar pistas das surpresas que ele faria, porque desde a sexta carregava um par de anéis de Solitária, e a moço romântico todo bobo sorria também consigo mesmo. Aonde vai pergunta um amigo ao vê-lo atravessar a rua, e já estava na terceira quadra quando respondeu o cumprimento. Seus pensamentos viajavam na casa de enorme quintal com espaço para um filho, e agora já imaginava uma casa para 5, pois não era mais marido esposa e filho, mas um gato e um cachorro também... Quem não gosta de animais?
Olhou os céus, não haveria dia melhor e mais límpido para as nuvens deixarem-no a vontade no sigilo deste sonho, um poeta combinou seus pensamentos aos seus sentimentos: "Ha um céu cor de baunilha, e as rosas desatam a baixo... procura no firmamento tão linda luz arisca, que seduzirás dos fachos, que conduzirás e risca feito nuvens de março". Enquanto baixou vista um garoto acompanhado da mãe se exaltava atravessando a rua numa típica correria infantil, enquanto um carro vinha em fluxo normal na via, não haveria tempo ao motorista de conter a uma ação abrupta de uma criança.  O rapaz correu ao encontro do garoto protegendo seu corpo do impacto, depois menino discorreu num choro interminável, a rua acumulou-se de gente, e o rapaz desacordado.
A mãe atônita do momento e mais pessoas chegavam, uma senhora reconheceu as feições do rapaz, correu a casa de Amália, quando voltaram já não havia mais pessoas no lugar, o comerciante da esquina havia se encarregado de socorrer os feridos, e sobrou à namorada seguir para o hospital, a três quilômetros dali o pronto socorro recolhia-o em mal estado, uma velha senhora da enfermagem na contumaz de sua experiência baixava sua cabeça e fazia dos primeiros socorros enquanto Vitor ainda resistia, - talvez não demorasse muito insistia consigo.
Vinte minutos depois chegava à namorada desesperada, a rogar entre os que cruzavam o hospital um leito de informações e esperanças, e a vizinha abraçada com ela dizia: - tenha fé. Passaram-lhe a informação de ele havia dado entrada na UTI, e teriam de aguardar na sala de espera por uma resposta mais precisa.
Passou então mais de uma hora e vindo lá de dentro um senhor de jaleco branco acompanhado da enfermeira que o socorreu, e vinha trazer as noticias além de uma caixinha à mão com as dedicatórias: Amália & Vitor escritas. Entregou-a para a namorada que já adivinhara o resultado. Não seriam precisas as palavras para o caso, apenas o silencio transbordava o caos consigo mesma, pois quando abril da caixinha observou os anéis em solitários a situação por dentro piorou. E de lá trouxeram uma cadeira para atender a moça que passou mal, e dali apenas o soro sorveu por aquele dia.
O dia ensolarado e ela a se balançar na rede, o barulho do vento se confundia com o do ranger da porta, que se confundia com o barulho de lagrima que cai. já fazia horas e só marcas, dos olhares vermelhos nítidos pálpebras mais do que machucadas, procura-se um abraço igual no vento; infelicidade. O que é preciso dizer para um alguém que chora a perca de um ser amado... Nada, uma dor não é parecida com outra, são únicas dores, próprias de quem guarda. E eu tentava entrever seus pensamentos...
Os dias seguem, mas fazia ainda uma semana da perca, e hoje, um dia constatadamente quente imagino, mas é inverno no peito de dela, choveu tanto por si, e as cores daquele verão amalgamadas no contraste de sua própria cela. Tocadas em suas mãos quase insensatas de se redimir, nas minhas indagações seriam o tentar admitir de sua tristeza. Como uma tragédia de Dante às avessas; paraíso, purgatório e inferno... A cura impossível da infelicidade certa, o vento levantou as folhas da tarde, e o sussurro intimo do tempo, um alarde do que não era mais gritos, senão de prantos no silencio.
Ela pediu ao irmão uma única coisa naquele fim de verão, um baú e um cadeado para guardar as fotos e as cartas trocadas, e os anéis que também iriam fazer parte, não olharia mais, mas se prometeu mesmo sem certezas se amaria alguém tanto assim. O irmão consolava-a no intento de apaziguar um certo caos portátil. Porque a vida esperava por ela para viver também, pois esse sentimento de eternidade permanece em seus pensamentos e ela saberia de alguma forma guardar seu amado, longe de uma tragédia assim deveria ser, mas, mais perto de todo o sentimento que o foi e ainda é. Algum dia descobriria vários sentimentos por outros, mas não seriam os mesmos, já que ninguém nos passa despercebido de esquecermos sem sermos os mesmos. A mudança é um processo natural do tempo.
            Ela foi a estante em busca de um livro, saiu então do seu leito de enternecida introspecção, e não notou que seu irmão a observava sempre da sala, preocupado e reciproco, continuou a segui-la de olhar, não a deixando notar. Minutos depois viu que adormecera e deixou cair o livro do colo ao chão, e ao correr para levanta-lo de volta o irmão observou o marcador de pagina num escrito marcado a caneta que claro dizia: A morte não é a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nós enquanto vivemos. (Pablo Picasso).

(Cléber Seagal)

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