Ola!

"A felicidade não passa de um sonho, e a dor é real... Há oitenta anos que o sinto. Quanto a isso, não posso fazer outra coisa senão me resignar, e dizer que as moscas nasceram para serem comidas pelas aranhas e os homens para serem devorados pelo pesar."(Schopenhauer)

terça-feira, 11 de outubro de 2011

O Viajante


Rememorável desejo, minhas mãos escorregaram das dela, baixei a vista e já sem prumo aprontei-me, e de certa toda a falta que um ser traz, embala todas as desilusões que alguém guarda. Meu veiculo dobra a esquina e já vai longe... Perdi meu coração.

Bateu-me um aperto ao peito, eu nunca senti semelhante angustia, agora terei tempo para chorar o que não mais tenho, sentirei o que é ser só; senhor sozinho. Muito intimo esse penar, acostuma-se com o calor doutro corpo, uma andorinha passeia com outra no final da tarde; tudo são amores, linda a felicidade dos outros.

Viajo na boleia, observo inerte o escurecer silencioso do espaço que me cobre, o frio substitui o calor, agora é dor verdadeiramente sentida de saudade. Não adianta que eu olhe para traz, ela se foi do retrovisor. Eu deveria abraça-la um pouco mais, senti-la demais... Estar com ela na cabeça não me basta.

As estrelas parecem distantes, perdidas por instantes como na madrugada o meu olhar. E no fundo mais escuro além do brilho de tilintar dos astros eu vejo a imensidão do mistério, uma dúvida semelhante se faz igual no coração dos homens, o que temos? O silencio das horas amarga-me.


Sinto cheiro de mato, e a relva distrai-me inutilmente... Já me foi cama, assoalho de prazeres e amores, fui dela toda a parte, e só a lua, esta lua que ainda sobra ao céu alumiou meus abraçares. Eu não precisava de lençol, meu cobertor era feito de amores de amada.

Toquei a vidraça da janela, doutro lado escorria agua... Catei o que não podia. O sereno vira chuva, e chove aqui dentro de mim também... Nas imagens do que não posso... Molho minha alma. Deveras cortante o que tenho, escrevo a mil, não sei se volto, não sei se vivo bem longe do que amo.

Quantas lágrimas caíram ao alvorecer do outro dia, nunca a chuva lá fora cobrirá minha tempestade por dentro. Nunca serei eu mesmo como dantes, foi à ingenuidade o poder e o negar transbordante dum adeus, sentirei que paguei pena por amar, por desejar e não mais terei.

O dia traz a luz do sorver, que emprega a sorte de tudo àquilo que renasce, doí-me em vista já tarde, mas meu frio não passa, nem sei mais o que fazer, primeira noite sem, primeira de varias... Só sabe destas migalhas quem me vê; sente este apertar... Não, amar também dói e minha dor é crônica.

(Cléber Seagal)

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